Controle de gastos e salário menor minam crescimento global, diz Unctad

O rigoroso controle de gastos dos governos e a redução dos salários dos trabalhadores estão reduzindo o crescimento de todos os países desenvolvidos. As nações em desenvolvimento, como o Brasil, mesmo com suas políticas de estímulo ao consumo, também são afetadas pela menor atividade, com a queda de suas exportações e o recuo nos preços das commodities. Essa é a principal avaliação do Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2012, feito pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).

O relatório mostra que o crescimento global deve ser inferior a 2,5% neste ano, patamar menor que os 2,7% registrados no ano passado. Mas as taxas variam entre as regiões. Nos mercados em desenvolvimento, o avanço vai oscilar entre 4% e 5% em 2012. Já a Europa será a mais afetada, com avanço de 1%. Já os EUA e o Japão devem fechar o ano com alta de 2%.

Embora afetadas pela queda nas exportações para os países mais ricos, as economias em desenvolvimento estão menos dependentes destes países, revela a Unctad. Entre 2006 e 2012, por exemplo, as nações em desenvolvimento foram responsáveis por 74% do crescimento da produção global, contra 22% dos países desenvolvidos.

“O que dificulta a recuperação da recessão global são as pressões de recessão nos países desenvolvidos. Isto inclui ajustes de balanço no setor privado, desemprego elevado, o que diminui as receitas domésticas e dificulta o consumo das famílias, e governos lutando prematuramente para reduzir suas dívidas”, diz o relatório.

A Unctad também afirma que os elevados déficits fiscais dos países é resultado da crise e não sua causa. Lembra ainda que as ações dos governos para reduzir a dívida pública tendem a elevar o desemprego. E o cenário tende a ficar pior, já que as reformas propostas em vários países, como a flexibilização do trabalho, vão reduzir ainda mais os salários reais, aumentando as desigualdades de renda. “Se a produtividade global cresce sem um aumento proporcional dos salários, a demanda acabará por ficar aquém do potencial de produção, reduzindo assim a utilização da capacidade, os lucros e os investimentos”, resume o relatório.

O ideal, diz o documento, é que os governos criem políticas que mantenham a participação dos trabalhadores na geração de riqueza do país e que usem os recursos públicos (gastos) para combater a igualdade. O relatório cita os programas de transferência de renda, usados em países da América Latina, que permitem a redução da desigualdade.

O relatório sugere ainda elevar os impostos para os ricos. ” A tributação poderia ser aumentada com rendimentos superiores resultantes de atividades direcionadas mais para o aumento da fatia do bolo de algumas poucas pessoas em posições-chave em comparação com os lucros da atividade empresarial e do trabalho produtivo”.

Fonte: O Globo

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